Quem não somos

Ricardo Ebling


Jorge Luís Borges definiu assim: ele disfarça o seu nome conhecido com a outra parte de seu nome verdadeiro, ainda que em parte não consignado em cartório. Sua face real, não é a dele, mas de outra pessoa de quem herdou o nome verdadeiro. Não em em todo, pois a porção germânica ainda não existia ali por 1934. O que existia ao longe era o pacto entre Alemanha e Itália.




Zizek NieTchê

(1949/RS)

Nietchê é lá da Sanga Funda, nos arredores de Pelotas (RS), que fica no sul do mundo.

Zizek, como primeiro nome não esconde, é o encardido do socialismo que ele pegou junto com o sarampo e a caxumba. Todos estes três que ressurgem a cada estação, devido a sem noção do estado sem razão. E sem vacinação. 

Nietchê estudou pouco num internato agrícola, que fora também abrigo de menores de idade e problemas para maiores sem juízo. Mas aprendeu muito numa comunidade formada em torno de um presídio esquecido, logo ao lado. 

Havia três lupanares de pau-a-pique.

Liderada por um mestiço de irlandês com índia, lá, nesse lugar anárquico e infeliz, Nietchê se sentia em casa. Decorrência natural, pois era filho de um dos 350 bastardos do Visconde da Graça, o outrora dono de tudo na região, com uma pomerana que, quando saiu da Europa, era alemã, passou pelo Rio como austríaca e foi dar em Pelotas como polonesa.

Autodidata convicto, não gostava muito de se deslocar. A contragosto, uma vez acompanhou uma excursão de alunos do internato ao Rio de Janeiro. Odiou a experiência. Só conheceu o Mangue, a Lapa e o Obelisco de 1930.

Nietchê voltou à Sanga Funda, de onde nunca mais saiu, nem mesmo para dar um esticadinha à Lagoa dos Patos, que é logo ali ao lado.

Este ano, ao completar sete décadas de profundas meditações e da leitura das obras completas de contra-ajuda, (“você pode ser feliz sem dar certo”) de um mouro vermelho de Bagė e de seu aparentado João do Sul, recebeu inesperado convite, típico desses tempos estranhos.

Foi indicado para prestar consultoria filosófica a um novíssimo empreendimento: a reciclagem de ideias, materiais e imagens de candidatos políticos. A Lavôtanovo, que vai incorporar todos os truques safados dos marqueteiros traquinas, passar no processador black&decker e servir para os otários de sempre, estejam comprando ou vendendo.

Aceitou o convite, pois missão está fácil: nada do que acontece no mundo é estranho na Sanga Funda e a filosofia, está bem provado, pode ser usada por qualquer aventureiro sem escrúpulos.