Infinitas mamatas partidárias


Com Luiz Lanzetta — O Estado é hoje no Brasil o grande financiador dos partidos, que em sua maioria defendem o capitalismo, embora nem saibam definir o que seria esse regime econômico.

Nossas incontáveis agremiações dispõem de fundos partidário e eleitoral, mas também têm financiados pelo Estado os seus escritórios nas Câmaras de Vereadores, nas Assembleias Legislativas, Câmara Federal e Senado.

Esses recursos públicos servem ainda para reembolsos de despesas médicas, viagens, almoços, jantares e até a colocação de próteses penianas.

Há verbas de moradia e de chatôs “para comer gente”, como confessou certa vez um integrante do baixo ventre.

Tem ainda as emendas individuais, de bancadas e secretas. Mais as indicações para cargos públicos e cabides bem remunerados onde são pendurados parentes e apaniguados.

Sem falar nas hoje famosas “rachadinhas” em que os funcionários de órgãos legislativos, por vontade própria ou não, têm que devolver parte dos salários.

Há ainda taxas para a proteção de mandatos presidenciais ou para não atrapalhar indicações para a Esplanada.

São muitos e generosos os estímulos para criar ou melar CPIs.

Todo este aparato é pago com o nosso dinheiro.

Por falar em Bolsonaro, ele, em tese, vetou o fundo eleitoral. Mas nós sabemos que não é para valer. Já está tudo combinado.

E tem gente que dizia que o partido único saia caro para a União Soviética…

Mas os nossos partidos vão além do que foi imaginado ou pensado pelos cientistas políticos do mundo todo. Transformaram-se em organizações familiares de sangue ou de negócios comuns.

Podem até ser deixados como herança, a exemplo de como no passado era transferida a posse de escravos. Meras mercadorias de senhores abastados.

Vamos imaginar um testamento deixado por um dono de partido:

“O deputado Oliveira Filho deixa para seu filho Oliveira Neto, o primogênito, o PPPT de M, partido que seguirá apoiando qualquer governo, detentor de um fundo eleitoral de 200 milhões e de um fundo partidário de 150 milhões, com 34 filiados e 340 funcionários, que doam 60% dos salários como contribuição compulsória à família Oliveira.

Por seu apoio perpétuo, a quem quer que esteja no poder, Oliveira Neto terá direito a emendas orçamentárias destinadas ao partido, indicação cargos denominados de DAS (serão cinco DAS4, nove DAS3 e 15 DAS2) em ministérios que tenham mais de 2% do orçamento nacional. Sobre a tradicional taxa de 10% na intermediação de compras públicas, ele poderá cobrar um comissionamento de excepcionalidade (sem limite) em casos de guerras, pandemias e outras tragédias,

Como negócios paralelos e garantidos, haverá o aluguel do espaço cedido pelas emissoras de rádio e tv (concessões públicas) para propaganda e a venda de legenda para candidatos avulsos”.

Hoje, é mais lucrativo fundar um partido que abrir uma Igreja. Inacreditável! Claro que holdings reunindo as duas organizações serão permitidas. Uma milícia ou outra (paramilitar ou virtual) poderá também ser incorporada.

Afinal, o sistema é uma iniciativa capitalista, desde que, é claro, não haja nem trabalho nem capital privado. E todos os recordes podem ser batidos.

Um choque de “livre iniciativa” para os nossos partidos, tão amplamente defendido em certos plenários, está passando da hora.

Quando, afinal, veremos a “força animal do capitalismo” trabalhando como modelo das nossas organizações partidárias?

O perigo que corremos hoje é de o custo de um futuro partido único ficar mais razoável que o financiamento público geral e irrestrito a tantos partidos.

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Ilustração: montagem com fotos (cedidas sem uso de recursos públicos) do paixabay.com

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